domingo, 20 de fevereiro de 2011

Como descobri esse templo


Após uma corrida louca para encontrar um emprego que me possibilitasse manter a faculdade de arquitetura, recebi o convite para trabalhar numa biblioteca escolar de um colégio próximo de onde morava. Na época, não fazia idéia do que se fazia em uma biblioteca. Muito menos numa biblioteca escolar. Pensei bastante e decidi marcar uma entrevista com a bibliotecária responsável por ela.

Ao chegar a tal biblioteca, achei-a pequena, acanhada e muito desorganizada. A bibliotecária me falou sobre a rotina dali e achei que não teria problemas em aprender o serviço. Como estava mesmo precisando de dinheiro para me manter, aceitei.

Resolvida todas as questões trabalhistas entre entregar os documentos necessários, fazer os exames solicitados e a total aprovação da diretoria do colégio, finalmente chegou o meu primeiro dia de trabalho nela.

As 7h30 da manhã, adentrei os portões da escola, segui até a recepção e me anunciei. Imediatamente a moça me passou as chaves da biblioteca e me entregando os jornais do dia falou que já podia subir.

O meu primeiro contato com os jovens foi atravessando o pátio em direção ao prédio onde ficava a biblioteca. Foram tantos olhos curiosos me medindo e fazendo uma avaliação sobre a nova auxiliar de biblioteca. Isso, ao mesmo tempo que me trouxe uma insegurança, trouxe um calor diferente que nunca havia sentido.

Já dentro do recinto, guardei minha bolsa e comecei as aventuras pelos corredores de livros empilhados, muitas caixas pelos cantos, duas mesas abarrotadas de papéis e mais livros. Pensei comigo: E agora? O que faço? Liguei para a secretaria e perguntei a que horas a bibliotecária chegaria. Qual não foi minha surpresa ao saber que ficaria a manhã inteira sozinha e que, em dez minutos, o sinal do recreio soaria e muitos alunos viriam à biblioteca. O pânico tomou conta de mim. O que faria quando inúmeros alunos invadissem a biblioteca em busca de livros, pedindo pesquisas e eu não sabia de nada! Tomada por esses pensamentos, me vi de repente com vários pares de olhos aguardando resposta a algumas perguntas que já haviam feito e eu nem tinha ouvido nada por conta de meu nervosismo.

-Tia, por favor! Empresta-me o livro de matemática!

-Tia, rápido! Me dá o livro de biologia! Rápido, ainda não lanchei!

-Tia, por favor! O livro de geografia!

Tia, tia , tia! Meu Deus! O que faço! Não sei que livros são esses, nem onde ficam!

Após alguns segundos que valeram por uma eternidade, falei a todos que era nova e que não sabia que livros eram esses, nem onde ficavam. Então, um garoto falou:

- Ah! Sem problemas! A gente sabe onde ficam. Olha, o meu, de matemática, fica naquela estante azul e o livro é verde com uma calculadora na capa.

Imediatamente segui sua indicação e procurei o tal livro. Para minha felicidade, achei-o e entreguei ao garoto que me falou:

- Moça, você precisa fazer o empréstimo de uma semana pra mim. Olha, tá vendo essa caixa de acrílico cinza? Ai na mesa? Então, minha ficha fica aí, a senhora pega, anota o número do livro e a data de devolução. É fácil!

- Ah! Me chamo Francisco Gomes da Silva. A fichinha tá pelo sobrenome.

Corri para a tal caixinha e procurei sofregamente a tal ficha. Achei, anotei, e entreguei o livro ao garoto agradecendo. E assim, sucedeu os demais empréstimos da manhã. Todos me ajudando a localizar o livro e, em tempo recorde, aprendi minha primeira grande lição de minha profissão: fazer um empréstimo de livro.

Quando as 14h00, chegou a bibliotecária, ela me olhou curiosa e perguntou:

- Oi! Tudo bem? Como foi sua manhã? Algum problema?

- Boa tarde chefe! Está tudo muito bem! Minha manhã foi magnífica e aprendi muitas coisas hoje.

- É mesmo? O quê?

- Solidariedade!

- Ah!...Certo. A propósito, desculpe-me não estar aqui hoje cedo para te orientar em seus afazeres. Tive outro compromisso. Venha, vou te mostrar como se faz empréstimo de livros e te mostrar as estantes e onde se encontram as classificações dos livros.

- Não precisa não! Já vi tudo pela manhã e aprendi a fazer empréstimo. Hoje pela manhã já fiz vários. Pode conferir. Estão todos aqui.

Entre espantada e curiosa, a bibliotecária verificou meu serviço e certificou-se que estava tudo correto. Elogiou-me dizendo que era esperta, inteligente e que aprendia fácil e rápido as coisas.

Sorrindo, pensei com meus botões que aqueles garotos e garotas foram de uma atitude solidária comigo que não havia visto em nenhum lugar que tinha trabalhado. Esse meu primeiro contato com eles foi, hoje tenho certeza, fundamental pela futura escolha de minha profissão. Pela primeira vez, me senti acolhida e aceita de imediato pelas pessoas. Pela primeira vez, num ambiente profissional, me senti em casa!

4 comentários:

Dribook disse...

Achei maravilhoso seu relato!!! Aliás dá pra transformar em crônica!!

Muito legal este post!!!

Beijosss

Roseli Venancio Pedroso disse...

Oi Dri!
Fico contente que tenha gostado. A ideia é justamente essa. Há dois anos comecei a escrever crônicas sobre acontecimentos na biblioteca em que trabalhei e esse era o primeiro capítulo. Ainda publico tudo isso mas enquanto não dá, publico por aqui mesmo.
Bjs

Dribook disse...

te dou a maior força!!!beijosss

Anônimo disse...

muito legal sua historia
olha se um dia vc publicar algum livro me avisa que eu quero ser a primeira a comprar

ah já li o livro coraçao apaixonado e ameii pena q nao li o primeiro antes mas msm assim ameii o livro