O remédio é escrever

Sempre que indexo artigos de revistas no banco de dados da biblioteca em que trabalho, me deparo com coisas interessantes. E como sempre, gosto de compartilhar com todos. Leiam esse artigo e vejam o quanto vale a pena escrever. Seja num diário comum, seja num blog, enfim, é uma ótima terapia. Talvez não seja novidade para a grande maioria que por aqui passar, mas sempre é bom ler e reler. Essa é em especial para a turma que tem feito do blog, seu material não só de pesquisa e divulgação de informações e aprendizado mas um espaço de troca , amizade e crescimento.

Jessica Wapner – Revista Scientific American Brasil, nº74, Julho de 2008

A automedicação pode ser o motivo por trás do sucesso da blogosfera. Cientistas - e escritores - há anos conhecem os benefícios terapêuticos de escrever sobre experências pessoais, pensamentos e sentimentos. Mas, além de servir como um mecanismo para aliviar o estresse, expressar-se pela escrita traz muitos benefícios fisiológicos. Pesquisas mostram que com isso é possível aprimorar a memória e o sono, estimular a atividade dos leucócitos e reduzir a carga viral de pacientes com aids e até mesmo acelerar a cicatrização após uma cirurgia. Um estudo publicado na edicção de fevereiro da Oncologist afirma que pacientes com câncer que escreviam para relatar seus sentimentos logo depois do tratamento se sentiam muito melhor, em comparação a pacientes que não se deram esse trabalho.
Os cientistas agora esperam explorar as bases neurológicas em jogo, especialmente levando em conta a explosão dos blogs. De acordo com Alice Flaherty, neurocientista da Harvard University e do Massachusetts General Hospital, a teoria do placebo para o sofrimento é um dos focos que se pode aplicar à questão dos blogs. Como criaturas sociais, os humanos apresentam uma variedade de comportamentos relacionados à dor, como a reclamação, que age como um “placebo para conseguir satisfação”, afirma Flaherty. Usar o blog para expressar experiências estressantes pode funcionar da mesma forma.
Flaherty, que estuda casos como hipergrafia - desejo incontrolável de escrever - e o bloqueio criativo, também analisa modelos de doenças que explicam a motivação por trás dessa forma de comunicação. Por exemplo, as pessoas com manias geralmente falam demais. “Acreditamos que algo no sistema límbico do cérebro está fomentando seu desejo de se comunicar”, explica Flaherty. Localizado principalmente no centro do cérebro, o sistema límbico controla nossas motivações, sejam elas relacionadas à comida, ao sexo, ao desejo ou à resolução de problemas. “Sabemos que há impulsos envolvidos [na criação de blogs]. pois muitas pessoas agem de forma compulsiva”, observa Flaherty. Além disso, criar blogs pode desencadear a liberação de dopamina, algo parecido com os estímulos que sentimos quanto escutamos música, corremos ou apreciamos uma obra de arte.
Os lóbulos frontal e temporal, que controlam a fala - o centro não dedicado à escrita está diretamente conectado ao cérebro -, talvez tenham, também, um papel importante. Por exemplo, lesões na área de Wernicke, localizada no lóbulo temporal esquerdo, resultam em fala excessiva e perda da compreensão da linguagem. As pessoas com afasia de Wernicke apresentam linguagem inarticulada e é comum escreverem constantemente. Tendo em vista essas características, Flaherty especula que alguma atividade nessa área poderia estimular o desejo de criar blogs.
O entendimento dos cientistas sobre a neurobiologia por trás da escrita terapêutica deve permanecer especulativo por enquanto. As tentativas de retratar o cérebro antes e depois de escrever renderam poucas informações, pois as regiões ativas estão profundamente localizadas. Os estudos recentes com ressonância magnética funcional demonstraram que o cérebro se ilumina de forma diferente antes, durante, e depois de escrever, observa James Pennebaker, psicólogo da University of Texas em Austin. Mas Pennebaker e outros ainda são céticos quanto ao valor dessas imagens, pois sçao difíceis de reproduzir e quantificar.
Provavelmente, a escrita ativa um conjunto de vias neurológicas, e vários pesquisadores estão comprometidos em descobri-las. Na University of Arizona, o psicólogo e neurocientista Richard Lane espera tornar as técnicas da imagiologia cerebral mais relevantes, usando-as para estudar a neuroanatomia das emoções e a dorma como elas são expressas. Nacy Morgan, principal autora do estudo publicado na Oncologist pretende realizar estudos mariores baseados na comunidade e ensaios clínicos sobre a escrita expressiva. Pennebaker continua a investigar a ligação entre a escrita expressiva e alterações biológicas, como uma melhor noite de sono, que são essenciais à saúde. “Acredito que o foco no sono é um dos promissores”, avalia.
Sejam lá quais forem as causas subjacentes, as pessoas diagnosticadas com câncer e com outras doenças sérias estão buscando cada vez mais - e encontrando- conforto na blogosfera. “Sem dúvida criar blogs trás benefícios similares” à escrita expressiva, considera Morgan, que deseja incorporar programas de redação na medicina preventiva para pacientes de câncer.
Alguns hospitais começaram a hospedar blogs de pacientes-autores em seus websites à medida que os clínicos passaram a reconhecer seu valor terapêutico. Diferentemente de um diário de cabeçeria, os blogs oferecem benefício adicional e leitores receptivos em situações similares, argumenta Morgan: “As pessoas estão se conectando e testemunhando as expressões uns dos outros - a base para formação de uma comunidade”.