quinta-feira, 22 de novembro de 2007

A necessidade de um maior engajamento social do profissional da informação

Resumo

O envolvimento do profissional da informação nas atividades sociais buscando uma maior integração na formação de leitores e criação de bibliotecas públicas para suprir a necessidade de uma sociedade mais informada e melhor capacitada.

Introdução

A área biblioteconômica da mesma maneira que o próprio país, recebeu uma herança cheia de ranços e maus hábitos que sempre causou um entrave em seu desenvolvimento. Desenvolvimento esse, que nunca conseguiu acompanhar os demais países que já têm uma política mais clara e objetiva.
Nossa área sempre se preocupou em formar, de início, “moçoilas” prestes a se casar, com uma boa formação cultural, em bibliotecárias que pudessem cuidar de um acervo de livros mantendo-os limpos, conservados e com uma excelente ficha técnica de todos eles.
Através dos anos, décadas, essas profissionais (uma vez que a maioria era do sexo feminino) seguiram uma linha em que se especializavam em desenvolver um perfil técnico próximo da perfeição, porém, bem distantes do universo dos usuários e de suas reais necessidades.
As bibliotecas em nosso país (as poucas que abriram e se mantiveram) sempre tiveram como política privilegiar mais a parte técnica que o contato profissional/usuário. Afinal, era tido como uma lei geral, o usuário se adequar aos regulamentos de uma biblioteca do que a biblioteca estudar o perfil de sua comunidade e suas reais necessidades e, baseadas nesse levantamento, estabelecer uma política voltada para eles. E, é baseado nessa observação, que esse trabalho se espelha para fazer uma reflexão da importância desse profissional se “especializar” no setor humano e procurar se aproximar das comunidades (principalmente das carentes) que mais precisam de nossa intervenção.

Em busca de um novo profissional

Desde a década de 80, mais ou menos, que esse profissional vem mudando sua forma de pensar, até mesmo porque o panorama mundial em que estamos inseridos exige uma nova postura profissional. O advento da informática mudou e muito esse mundo biblioteconômico. E hoje, o que mais importa é acesso a informação e as várias ferramentas para se chegar a elas. Vivemos em um mundo saturado de informação e, se não soubermos disponibilizá-las de forma lógica e coerente, não serve.
Todavia, apesar de sabermos tudo isso, ainda são poucas as bibliotecas em nosso país e mesmo essas existentes, não acompanham essa evolução.
Ainda permanece em grande parte delas esparramadas por esse enorme Brasil, pessoas não qualificadas para administrá-las e, na maioria, profissionais desviados de sua real função, apenas seguindo uma rotina de empréstimo/devolução sem nenhum interesse em melhorar os serviços prestados por essa instituição. Os profissionais da área, que são bacharelados e até com alguma especialização, também mantêm uma postura acomodada seguindo uma rotina de trabalho sem nenhuma outra inovação no seu dia-a-dia.
E mais uma vez o usuário dessas bibliotecas se vêm abandonados e relegados a segundo plano.
Mas hoje, vemos apontar no horizonte um átimo de esperança de que isso possa, a longo ou médio prazo, se modificar para melhor. A própria sociedade brasileira lentamente tem sentido que é imprescindível mudar. E isso, é claro, tem-se refletido no profissional e já tem-se visto vários profissionais criando projetos que têm contribuído para modificar esse cenário. Em vários Estados temos informação de que pessoas das mais variadas formação estão desenvolvendo projetos de incentivo as leituras, e criado bibliotecas (circulantes, móveis etc) levando às populações carentes essa preciosidade que é o livro e seu universo que transforma o ser humano que passa a ter contato permanente com ele. Mas, para tristeza nossa, são pouquíssimos bibliotecários engajados nesses projetos sociais.
Nos deparamos com sociólogos, pedagogos, médicos, publicitários e até pessoas humildes sem nenhuma formação acadêmica mas, que já trazem dentro de si, a consciência crítica e política de que se deve ter um comprometimento social com os menos favorecidos. Exemplos como o daquele pedreiro que montou uma biblioteca em sua comunidade, daquele rapaz que criou uma biblioteca em uma favela da zona sul de São Paulo e de tantos outros exemplos espalhados por esse país. E mais uma vez surge a pergunta que não quer se calar: e o bibliotecário? Cadê esse profissional que por mérito e especialização, deveria encabeçar a maioria desses projetos e que, quase nunca é visto nos locais que mais carecem de sua intervenção?
Atualmente muito se tem falado em consciência social. O terceiro setor tem crescido de forma surpreendente, contudo, ainda está longe do ideal. Mais e mais empresas estão despertando para a necessidade de participar de projetos sociais em todo o país e, o fato desse afastamento e até de certa falta de consciência social dos bibliotecários, além de contribuir para uma imagem negativa da profissão, tem dado margem para que outros profissionais de outras áreas tomem a dianteira de grandes e prósperos projetos passando assim, uma conotação negativa de que nossa profissão está para se extinguir e de que não somos importantes para a sociedade.
Vemos hoje, muitas bibliotecas tendo a sua frente, profissionais de outras áreas desempenhando atividades que deveriam ser de nossa alçada. Vários projetos do governo de apoio e incentivo a leitura dirigidos por professores, jornalistas e quase sempre, nenhum bibliotecário. Mesmo na política, falta um representante nosso para defender nossos interesses e alguém para mostrar a importância de se preservar e respeitar o profissional da informação. Grande parte da população até desconhece a formação de nível superior do bibliotecário afinal, para só emprestar e guardar livros nas estantes, pra que estudar tanto? Por que a classe não se mobiliza para fazer chegar a população, o verdadeiro papel do bibliotecário e de sua importância para a sociedade?
Todas essas questões fazem parte de uma minoria que tem sentido que é preciso mudar seu perfil profissional e, já desponta uma geração de profissionais que têm tido essa preocupação social. Vários jovens bibliotecários têm encabeçado trabalhos sociais em escolas carentes, em bairros de periferia e aos poucos essa realidade está mudando. É claro que, como verdadeiras formiguinhas, são trabalhadores de bastidores que quase sempre, trabalham de forma anônima, mas fazem a grande diferença por onde passam. Levam organização, informação, conceitos à todos aqueles que não foram privilegiados com bons estudos e uma formação acadêmica. E, esse é o grande diferencial desse transformador social. Afinal, o bibliotecário do futuro terá justamente esse perfil: não mais o técnico, o amante de livros, aquele que se fecha em sua sala confortável e se isola do resto da humanidade e de seus problemas. Esse novo bibliotecário deixa as salas de suas bibliotecas e saem às ruas dos bairros periféricos buscando conhecer a comunidade e suas carências. Voltando para suas salas, estudando formas de levar a essa comunidade orientações, informações, novidades suprindo assim, a falta de formação acadêmica da grande maioria, preparando-os para viverem melhor, preparando-os para o mercado de trabalho entre outras informações.
As faculdades de biblioteconomia também precisam acordar para a necessidade de implantar no seu currículo, a conscientização desse futuro bibliotecário de sua importância na sociedade como profissional transformador.
Apesar de observarem-se todos esses pontos “negativos” em grande parcela dos bibliotecários atuantes, é importante que se deixe bem claro que toda essa reflexão feita por um profissional da área, na realidade não se trata de uma crítica ferrenha aos colegas de trabalho, mas, na realidade uma “mea culpa” e uma constatação através de estudos, leituras e observação do quadro profissional e que isso, não deve ser encarado como algo feito para atacar nem ofender ninguém em especial mas, acima de tudo, servir de tomada de consciência de nosso papel social frente a essas mudanças que estão ocorrendo, mesmo que lentamente e quase invisível, em nossa sociedade.
Afinal é tempo de mudança, mudança requer coragem e ação, ação requer movimento e nós fazemos parte desse todo. Não dá para continuar fingindo que não é de nossa conta.

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